quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011




RAINHA DO ESPELHO

era preciso esvaziar
todos os armários abarrotados de lembranças precisavam ser esvaziados
tantos sonhos guardados
a espera de quê?
do improvável?
do inevitável?

a corda ela roia
claro que doía

tantos anos e ela ali diante de si
diante de um espelho
o rosto dentro da moldura era de uma beleza
intocável

ilhada dentro daquele espelho ela procurava o esquecimento
tinha existido em seu viver um momento
único, ímpar

e como apagá-lo se até o espelho fazia questão de guardá-lo?

roer a corda até arrebentar?
chorar?
gritar?
calar?

até quando se manteria calada?
de repente começou a dar risada
a imagem no cristal se distorcia à medida que ela ria

via-se apagando
a imagem desvanecendo

o espelho nada mais trazia
nem o rosto pálido
nem o passado guardado
tudo estava acabado?
era o fim do reinado da rainha de um reino encantado?

SONIA DELSIN

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